13.9.08

A Egberto Gesmonte

Não sei se tocará como tocou...
Sobre
as asas de borboleta.

Dedos para além de calda para muito mais além das cordas...
num piano suspenso em mãos

(recordas?)

Pois recobra-me a imagem perecível ao tempo que tenho a impressão de párar ao ter visto a sombra do tocar.

Horas inesperadas e ofegantes distantes do objetivo mergulham nos estimulantes metatarsos, metacarpos de prazer sumindo sobre notas irreconhecíveis.

Água aos olhos...
mar(r)emoto

à face bruta e sêca com sorriso alvo e calmo.
Aconchego de amor profundo e triunfante de um espírito musical novo e vibrante que afrouxa e arrebenta e comprime e dilata...

a partir de um estrangeiro de enormes crinas e rosto rude com ironia saborosa... generosidade e desdém... rápida ou lentamente quente e frio...

Tudo eu vivi intensamente alegre e surpreendente mente triste.

a imagem
em sombrio e desconcertado-desconsertado assento-acento (ou vice-verso)
num piano, cujas mãos dançam dialogando entre o destro e o canhoto com a incrível precisão de equilíbrio entre o leve e o pesar.
Brotam-me
agora
espasmos de agressiva criatividade.

Sou mais que especta(dor).


(por Natássia Garcia)
Escrito em Abril de 2006.

Ilustração: Mãos ao piano, um estudo de 1942, Archimedes Dutra

Nenhum comentário: