13.9.08

Ano Novo




Embora aparentemente esgotada e frágil, eu estava forte e não me sentia mais limitada pela superfície do corpo, o limite era o contato com o mundo, era o que eu tinha de mais profundo. A pele perfumada pela carne que envolvia a alma. Eu era um corpo aberto sangrando derramando calma e euforia,... contraditoriamente eu sou a própria respiração ofegante equilibrada. Viva. Pulsando. Tremendo por dentro e flutuando por fora. Feliz por me sentir no limiar da dor. Alegre por estar na fronteira... Entre o dentro e o fora.

Sou hoje uma estrela uma manhã um rastro um astro um risco uma luz

Sou hoje lançada no abismo do amor e da impossível existência do "é" e a possível existência do "sendo"

Sou sorriso em terra firme

Sou a loba uivando à lua e refletindo a luz de cesto de pérolas

Agora eu sou a saudade e o silêncio. Agora eu sou a cidade e o mundo inteiro. Eu sou o silêncio do grito, o silêncio de Deus, o silêncio das entrelinhas. Agora eu sou o espasmo da língua amarga e a chuva do sexo doce e a ausência do beijo latente. Cerrado. Agora eu sou as cigarras berrantes, o calor entorpecente, o sono disforme da madrugada de hoje. Agora eu sou o tempo maduro e caído das árvores, sou a cor amarelada da infância, sou o fim do dia. Agora eu sou o cinza dos fins dos dias e sou ainda os confins das noites. Agora eu tenho a loucura sem ser louca. Agora eu sou o pranto seco e o riso largo áspero escondido nas entranhas. Eu sou a adrenalina na artéria, o azul lilás de voz suave e espírito selvagem. Eu sou aquilo que há muito eu queria ser e porque não sendo não sei porque não fui. Por hora eu sou eu brotando de mim mesma, tão particularmente nua e tão sua e tão rua... Por hora eu sou a pressa de ir embora e o azar de não conseguir fugir. Porque por mais que eu esteja bem comigo mesma e me divirta sozinha eu agora faço parte de tudo e sendo tudo, como tudo insolúvel. E como tudo parte e como tudo inteira. Eu amo agora: o nada. O tempo dançando nos arranha-céus. Eu amo tudo que é imperfeição. Apesar de tudo, portanto, eu amo... Um sopro de vida livre... Agora o que eu quero: a felicidade... esse vazio e essa completude... esse espírito de luz. Agora o que eu quero: essa perfeição.

Natássia por ela mesma

Texto criado em Janeiro de 2008
Quadro de Gustav Klimt

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