4.10.09

Redemoinhos de sentidos


Está tudo muito bem.


E me quebro como cacos
e piso dolorosamente sobre os triturados sonhos construidos nos dias de ontem


Há coisas em tempos da vida da gente que desintendemos...
Hoje (por exemplo)
um pouco menos imatura,
não compreendo meus medos,
minhas angustias, minhas perdas...

(pedras e) Rio

e chôro ao mesmo tempo

nostalgia de uma menina que se foi
que nao fui
que ainda quero ser
que nao serei ainda
que nao será mais a menina
mas ainda sim terá a menina

Um coraçao mole investido por uma carcaça egoísta
um corpo, uma alma latejante...
a vida nos trai com possibilidades de escolhas
dolorosas
dificeis
iluminadas de alegria
e molhadas pela salina das lágrimas
ao alcance de um céu nublado
cinza e inconstante


de tempestades, tufões e dramas juvenis quando se tem pouca idade.

as horas da distância se extravazam
apagam a chama
e me desarmam
e se desmancham
e escapam
as saudades...

pedra de gelo
derretendo entre os dedos formigantes e frios
dedos roxos na angustia da imobilidade
torcem para escorrer o inverno demasiadamente rápido

e minhas mãos que nalgum lugar
num segundo já te fixaram
já não te esquece

e minhas mãos
que tatearam seu corpo
tatuam minha vontade

e tocam aos poucos sua ausência

dilatam
aquelas
meninas dos olhos

de castanhos a vermelhos ardentes


a sua presença


corre na inexatidão do tempo

nas circunferências das hora
fere a incongruência dos ventos
destroços do abraço
do afago morno

viver com o próprio entedimento que e a vida traz

viver sem o arrependimento de não...
viver como quem vive um presente por dia...
com toda a instabilidade que eu possa ter no mundo...
com todas as reticências do mundo que existe em mim...

direi sim quantas expectativas carinhosamente plantadas
depois de tantas queimadas e banhos de ardente sal...

como se eu esperasse um novo fogo
um fogo que a favor do vento ateasse fogo nas vestes
e depois da exposta queimadura
a brandura da chuva doce cobrindo meus pés
e fechando meus olhos com gotas pequenas e macias

suas mãos quando tocam

pode ser
que o sol se abra
e traga novo calor
nova luz
novo dia...

respirar o que Deus me dá,
O agora
uma pedra
um inseto perturbador
um pouco de frio
uma saudade abstrata
uma mãe
um pai
um nada
um amor
qualquer um
uma coisa qualquer
que seja

raízes profundas
espreita
estreita
vestígios

pode ser que não seja o que parece ser
ou que de fato deixou de ser
ou nunca foi

mas o infindável... sem dúvida...
medo de soletrar o carinho

meu olhar se transformou
quando percebi...
o mundo grande...
imensurável

não me faça egoísta
nao me faça só
enquanto me sinto dividida
entre o mar aberto
ou um pouco de afeto

O amor corre no meu corpo inquieto procurando um pouso.

E diante da vidraça intransponivel do tempo o beijo...
como a primeira primavera vista vivida entre as aretas do teatro.







(por Natássia Garcia)


Escrito em 21 de janeiro de 2005
Foto de um desconhecido.

5 comentários:

silvio cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
silvio cardoso disse...

Haja

hoje

p/

tanto

ontem

P. Leminnski

silvio cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
silvio cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
silvio cardoso disse...

Você se desnuda ao mesmo tempo se veste, é fascinante isso. Me identifiquei com sua poética, transparente...há muito de mim nela... experiências que sempre estou/estarei redescobrindo. Lidar com esse universo interior X exterior nos faz crescer..é através do "conflito", que há os melhores encontros.

Trago em mim estes anseios latentes e vivo-os... sem medos, pois "viver com medo é viver pela metade".