ESCRITOS PARA A PEÇA "A BRISA E O AQUÁRIO" - FRAGMENTO "VOMITANDO UM SAPO"
(Por Natássia Garcia)
(Por Natássia Garcia)
Um sapo. Pensei ter atropelado um
sapo. Fato. Não podes me acometer com tamanha audácia. Podes sim me partir e
curar o mal que me trouxeste. Não tem tamanho nem rosto nem fera, mas tem
grossura e sabor que me espera. Se tiveres a mim te perdes nas entranças do
galope, a marcha te assusta e te arranha o poder, a única chance que tens de amar
e arrebatas o tempo brincando de deus, solfejando audácias de quem nada sabe
sobre o amor. Fazes. Ocultas sem saber o que te guarda e pedes socorro sem
expor a ferida. Teu malgrado é o agouro do absurdo da calamidade apoderada
infame. Outra língua outra sorte outro encanto. De nada serve tuas doses
homeopáticas de amor, se o amor que distribuíste te sufoca, te engole, te tolhe
pela falta de coragem. Selvagem texto descobrindo o engodo a chaga e a malícia
do vento que trouxe o desamor. Foges. Vai! E carregas contigo a filha pródiga
da preguiça de amar. Vai! Cobre as pernas e esconde a vergonha do pranto de um
homem louco pendurado em penas. Sai, sai e não volta. E se voltares fique com
minha... Sai, sai, sai, quero esconder os olhos, cobrir esta imagem de ti. Se
um dia quiser pecado te chamo, mas se quiser amor... tu não mais estarás.
Suma, suma, em suma é isso. É o trote e o galope alado da visão turva. Curva e
me faz morrer um pouco mais, um pouco. Chora meus olhos d’água a aguda poça de
sal. Não arrisca, não trisca, mas sangra meu torço e chupa, chupa minhas
artérias. Calunia meu gozo e come minha carcaça estranha, abrupta, eloquente. Não
haverá mais nada absolutamente nada, nenhum vestígio de dor ou tristeza quando me
procurares. Será mentira toda a verdade que consumiste, e que pelo tempo eu
permiti viver e fazer qualquer coisa para viver esta tolice. Parte. Pois se um
dia eu partir, sinto que ficarei. Não terei forças para dizer não. Abriu?! Mas
se sair não voltarei como estou agora, não conseguirei mergulhar neste tempo de
água, míngua, teto, ferro, brasa. Se sair, acabará. O vidro, o quadro gélido do
aquário. A abundância da dor. O véu que circunda tem amargura da chuva, ácida,
pobre, lenta. Escorre as gotículas e eu escrevo qualquer coisa que me lembre
amor. O afeto de Vênus e a oportunidade de ser um pouco mais cálida.
Imagem: http://obviousmag.org/archives/2012/04/cecilia_paredes_arte_a_flor_da_pele.html
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