4.4.13


ESCRITOS PARA A PEÇA "A BRISA E O AQUÁRIO" - FRAGMENTO "VOMITANDO UM SAPO"

(Por Natássia Garcia)

Um sapo. Pensei ter atropelado um sapo. Fato. Não podes me acometer com tamanha audácia. Podes sim me partir e curar o mal que me trouxeste. Não tem tamanho nem rosto nem fera, mas tem grossura e sabor que me espera. Se tiveres a mim te perdes nas entranças do galope, a marcha te assusta e te arranha o poder, a única chance que tens de amar e arrebatas o tempo brincando de deus, solfejando audácias de quem nada sabe sobre o amor. Fazes. Ocultas sem saber o que te guarda e pedes socorro sem expor a ferida. Teu malgrado é o agouro do absurdo da calamidade apoderada infame. Outra língua outra sorte outro encanto. De nada serve tuas doses homeopáticas de amor, se o amor que distribuíste te sufoca, te engole, te tolhe pela falta de coragem. Selvagem texto descobrindo o engodo a chaga e a malícia do vento que trouxe o desamor. Foges. Vai! E carregas contigo a filha pródiga da preguiça de amar. Vai! Cobre as pernas e esconde a vergonha do pranto de um homem louco pendurado em penas. Sai, sai e não volta. E se voltares fique com minha... Sai, sai, sai, quero esconder os olhos, cobrir esta imagem de ti. Se um dia quiser pecado te chamo, mas se quiser amor... tu não mais estarás. Suma, suma, em suma é isso. É o trote e o galope alado da visão turva. Curva e me faz morrer um pouco mais, um pouco. Chora meus olhos d’água a aguda poça de sal. Não arrisca, não trisca, mas sangra meu torço e chupa, chupa minhas artérias. Calunia meu gozo e come minha carcaça estranha, abrupta, eloquente. Não haverá mais nada absolutamente nada, nenhum vestígio de dor ou tristeza quando me procurares. Será mentira toda a verdade que consumiste, e que pelo tempo eu permiti viver e fazer qualquer coisa para viver esta tolice. Parte. Pois se um dia eu partir, sinto que ficarei. Não terei forças para dizer não. Abriu?! Mas se sair não voltarei como estou agora, não conseguirei mergulhar neste tempo de água, míngua, teto, ferro, brasa. Se sair, acabará. O vidro, o quadro gélido do aquário. A abundância da dor. O véu que circunda tem amargura da chuva, ácida, pobre, lenta. Escorre as gotículas e eu escrevo qualquer coisa que me lembre amor. O afeto de Vênus e a oportunidade de ser um pouco mais cálida.

Imagem: http://obviousmag.org/archives/2012/04/cecilia_paredes_arte_a_flor_da_pele.html

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